sábado, 19 de março de 2011

Sr. Frits

O sr. Frits era o intelectual da aldeia. Depois duma longa carreira administrativa, no ministério das finanças, decidiu abandonar a capital, separando-se da família, por se sentir saturado da agitação da grande cidade. A sua formação de base era o curso da antiga escola comercial, tendo-se evidenciado sempre, como um aluno muito estudioso. Preferiu gozar a sua choruda reforma, permanecendo num local calmo, sem stress e com ar puro, onde pudesse cultivar alhos, cebolas e alfaces. Era seu projecto de vida dedicar-se às coisas boas que a terra tinha, mantendo simultâneamente alguma actividade (condicionada pelas limitações físicas, pois coxeava duma perna). Foi treinador do clube local, ficando famosos os aturados treinos que ministrava explicitando o "pontapé de folha seca". Também não havia um 27 de Setembro, em que ele não fosse um dos convidados de honra. Todos queriam ouvi-lo proferir, mais um dos seus elaborados discursos. No dia, a dia, tinha o hábito de interpelar os miúdos que andavam a estudar, sobre variadíssimas matérias, que ele ainda dominava na perfeição. Mas o seu passatempo predilecto era a caça. Vangloriava-se de ser um dos caçadores mais bem sucedidos. Tinha um inseparável companheiro e amigo de caçadas, que era o "Ti João Brando". Davam-se unha com carne até um certo dia. Um coelho meteu-se no meio dos dois e vai de atirarem ao mesmo tempo, no pobre do bicho que, teve morte certa. O que não foi tão certeira foi a decisão, relativamente ao autor do tiro, que primeiro tirou a vida ao láparo. Os dois se acharam com o direito de reclamar o troféu, tendo o "Ti João Brando" levado a melhor. Convencido é que não ficou o protagonista da história, decidindo, logo ali, terminar uma amizade de longa data. A ele ninguém o enganava muito menos um campónio qualquer.... escreveu-lhe uma carta em Latim, afirmando alto e bom som, que o "Ti João Brando" fosse pedir ao padre da freguesia que lha lesse e traduzisse...

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